06 de Julho de 2015 0 comentários
Há muito tempo atrás, bem antes desses episódios de “registo de identidade” nas paredes das cavernas o homem era nómada e um caçador nato. Reparem como era fantástico, através de uma “MARCA” no asfalto, ele conseguia interpretar:
a) O tamanho do animal;
b) A direcção que o animal seguia;
c) A espécie do animal;
d) Se era apenas um animal ou vários;
e) Se a pegada era recente ou antiga;
f) Se era alimento, perigo (ou ambos)…
Hoje a “MARCA” ou Identidade Visual ainda está relacionada com isso. Impressionante não é?
A Marca é Friendly? Fun? Séria? Actual? Grande/pequena? É frágil ou Forte? É um grupo? Uma extensão? Já alguma vez tinham pensado nisso?
Nós designers, somos “os caçadores” e quando trabalhamos com Identidades Visuais temos de colocar todos os nossos sentidos a funcionar. Desta forma, é bom que façamos a nossa própria metodologia. Relembro que uma metodologia não é para limitar as acções mas sim para nos ajudar a completar o processo sem que nada seja esquecido. Design é dar soluções a problemas e cá vamos nós!
1- Analisar o problema – Neste ponto poderá ser-nos entregue um brief, mas por vezes não nos é entregue nada! Somos nós que temos de absorver o máximo de informações sobre o projeto, devemos de colocar todas as questões ao nosso cliente, sobre a empresa/produto/marca ou serviço. Devemos de resumir todos os pontos essenciais para que consigamos entender exactamente qual é o problema. Público-Alvo, Segmentação, Posicionamento, Análise SWOT, Estratégia de Comunicação e Marketing Mix, parece matéria de Marketeer mas é crucial entender neste ponto. Albert Einstein dizia “Um problema bem definido já é a metade da solução”.
2- Pesquisa Interna/Externa – Depois de identificar qual o problema, devemos de fazer uma pesquisa profunda internamente (à empresa/serviço/produto) e externamente (à concorrência). Podemos abranger essa pesquisa não só à concorrência nacional como também internacional. Saber não ocupa espaço e quanto mais conhecimento tivermos sobre as outras soluções possíveis dos concorrentes, melhor será a minha solução. Aproveite e pesquise ainda sobre tendências gráficas, cores, padrões, case studies, fontes…etc…
3- Brainstorming / Conceito – Faça-se acompanhar da pesquisa do ponto 2, tenha ideias, muitas ideias para conseguir chegar a um conceito ou mais conceitos (registe-as)! Tenha sempre em mente o problema inicial que já deverá estar muito bem definido. Ilustre os seus conceitos numa parede com imagens (concept board) e com cores (color board). Inspire-se em Keywords que transmitam esse conceito e esquematize (Ex: P+D=B). Refina, filtre, discuta, peça opiniões e escolha os 3+.
4- Estudo da forma– Inicie os seus rabiscos baseado-se nos pontos anteriores (Brief/Pesquisa/Conceptual). Utilize apenas preto e branco para controlar a força das formas. Aquí entram também outras disciplinas e teorias – pregnancia, semântica, sintaxe, morfologia, gestalt, ergonomia, psicologia, sociologia…etc. Desenhe e redesenhe sobre papel opaco as suas 500 ideias gráficas. O papel vegetal é super importante, pois é agora que devemos de seguir o raciocínio de fazer junções e alterar registos gráficos, com pontos, linhas, texturas…redesenhando cada vez com mais precisão. Lembre-se o computador é apenas uma ferramenta que nos ajuda, mas se este processo analógico não for realizado, o computador limita-nos a criatividade. Tenha atenção com as linhas muito finas, e lembre-se que o estilo iconografico é mais perceptível que o estilo realista. Escolha a/s formas que melhor comunicam, desenhe-as com a maior perfeição possível. Fotografe/scane, e passe para o computador para vetorizar a forma num programa vectorial! (esqueça o photoshop). Adapte o seu símbolo a uma grelha de construção geométrica.
5- Estudo do lettering – Depois de ter a forma bem desenhada vectorialmente a preto e branco, é altura de estudar vários estilos de lettering de maneira a entendermos qual o estilo que melhor comunica e se adequa ao conceito pretendido. Lembre-se que deverá de imprimir os testes, para poder ver na realidade a força da forma + lettering. Lembre-se também que a tipografia tem regras de legibilidade e existem fontes mais legíveis que outras. Escolha sempre boas fontes!
6- Estudo das Proporções – Esta é a fase em que devemos de entender que a força do lettering é tão importante quanto a força do símbolo, deverá de haver unidade, equilíbrio e máxima legibilidade. Para que haja sempre legibilidade na redução de um logotipo poderá se apoiar neste artigo que é uma boa ajuda. Faça testes impressos de redução mínima ao logo, depois de ter entendido exactamente quais as proporções entre forma e lettering, comece a estudar outras possibilidades de assinaturas da marca (sempre a preto e branco).
7- Estudo da cor – Depois de ter já a forma/lettering/proporção definida, é altura de estudarmos outra das questões mais importantes da Identidade Visual – As Cores. Apoie-se no Color Board do ponto 2 e faça vários testes de cor, junções de cor, misturas, gradiantes, texturas, use lapis de cera, pastel, aguarelas, e até cor impressa na sua impressora. (Tire uma escala de cores na sua impressora, poderá ajudar na maquetização final). Perceba que a cor transmite vários estados de espírito (sinestesia), há significados diferentes para cada cor, e cada cultura atribui às cores o seu próprio significado. Tenha em atenção neste ponto a reprodução da identidade na gráfica, pois o uso da cor se não for bem trabalhado poderá influenciar em muito o orçamento. Também existem cores que têm um processo de conversão mais complicado (diferente) de Pantone/CMYK/RGB/Hexadecimal/RAL…em papeis uncoated e coated…
8- Teste e analise os resultados – Seleccione 3 Identidades diferentes e junto do público-alvo faça o teste de legibilidade, morfologia, sintaxe, semântica, pregnancia …e entenda quais as preferências do público. Utilize essas 3 propostas e os respectivos resultados para comprovar ao seu cliente que já está mais à frente, e que o seu trabalho é sustentado em factos verídicos e reais.
9- Aplicação da Identidade Visual – Aplique a identidade mais votada (no ponto 8) em peças necessárias ao seu cliente justificando, e apresente peças que traga mais valias para o negócio. Surpreenda-o e faça-o entender que você é atento, culto e pensa fora da caixa. Não caia no erro de fazer as peças todas iguais sempre com o mesmo grafismo (chapa7), lembre-se que pode haver uniformidade em todas as peças sendo elas todas diferentes, por isso conte uma história em cada peça. Caso ele entenda que a proposta da identidade visual que você desenvolveu não é a preferida dele, informe-o que está a ir de encontro à analise realizada mas que poderá sempre ajustar o projecto ao que ele pretende.
10- Faça uma apresentação brilhante – Faça algo original, provoque a emoção UAUHHH. Para além das maquetes rigorosas e impressas leve também uma animação introdutória, home do website, brindes, propostas de promoções, redes sociais etc… também poderá consultar este outro artigo! Faça uma apresentação 360º, apaixonada, carregada de crença e optimismo.
Desta forma conseguimos separar as águas e justificar ao cliente o porquê do nosso valor. Não se salta para o computador e faz-se um logotipo por 25€. Esse é um problema que leio muitas vezes por aí (o sobrinho que faz mais barato) o sobrinho vai ser a sentença do cliente, mas como é da família é… muito talentoso. A diferença tem que saltar à vista pela qualidade e fundamentação. Bons projectos a todos, muito ânimo e sejam sempre fiéis à ética profissional.
Fonte: Design Culture
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